segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Nós somos a Elite...




Estava a ver o programa, do Mário Crespo, no qual participava Carlos Zorrinho, defendendo de maneira cega o seu imaculado PS justificando nas suas palavras que o passado (no qual se orgulhou de participar) e que tanto penhorou o nosso futuro, já lá vai! Quando de repente da sua parte ouvi o que pensava não ter ouvido. “Nós que aqui estamos presentes temos consciência de que somos uma elite”…um zumbido sobrepôs-se à minha audição. O resto do debate deixou de ser importante, esta sim era a “tirada” que espelhava o que nos aconteceu nos últimos anos. Lembrei-me de Gaetano Mosca que se ocupou exclusivamente das elites políticas, embora não utilizasse o termo “elite” mas sim “classe política”. A recusa do termo “elite” justifica-se na medida em que o seu significado pode conduzir à ideia de que aqueles que estão no poder sejam os elementos melhores da sociedade. Segundo o autor, as minorias governantes são (deveriam ser) formadas por indivíduos que "se distinguem da massa dos governados por certas qualidades que lhes dão uma certa superioridade material, intelectual ou mesmo moral (...)" Este è verdadeiramente o problema, a sociedade não se revê na actual “classe política”, no fundo eles são o que Robert Dahl descreve como sendo um grupo minoritário que exerce “dominação política” sobre a maioria, dentro de um sistema de poder democrático. E quando se vê no poder organiza-se de tal modo que mantém, a longo prazo, a própria posição, tutelando os seus interesses, utilizando para isso os meios públicos à sua disposição. Posicionando-se em locais hierárquicos de diferentes instituições públicas, partidos ou organizações de classe, ou seja, pode ser entendido simplesmente (não podendo ser mais actual), como aqueles que têm capacidade de tomar decisões políticas ou económicas. Podemos incluir no “universo elitista” de Zorrinho (e outros) os “formadores de opinião” designando aquelas pessoas ou grupos capazes de formar e difundir opiniões que servem como referência para os demais membros da sociedade. Só que estes estão longe de um “intelectual orgânico”, tal como era definido por Gramsci. Neste caso, o conceito de formação da “opinião pública” é substituída pela ideia de “construção ideológica”, entendida como a direção política tomada num dado momento histórico. Sob este aspecto, esta “elite” deixou há muito de cumprir o seu papel de dirigente social e cultural, de estabelecer de se afirmar numa ideologia. Deixando assim no decorrer do seu discurso o “vazio” na longa batalha que constitui a história da vida, onde todo o esforço é contrariado por dificuldades, até que a vitória seja conquistada.


Nuno Serra Pereira, 11 de Setembro de 2012.