Estava a ver o programa, do Mário Crespo, no qual participava Carlos Zorrinho, defendendo de maneira
cega o seu imaculado PS justificando nas suas palavras que o passado (no qual se orgulhou de participar) e que tanto penhorou o nosso futuro, já lá vai! Quando de repente da sua parte ouvi o que pensava não ter ouvido. “Nós que aqui estamos presentes temos
consciência de que somos uma elite”…um zumbido sobrepôs-se à minha audição.
O resto do debate deixou de ser importante, esta sim era a “tirada” que
espelhava o que nos aconteceu nos últimos anos. Lembrei-me de Gaetano Mosca que se ocupou exclusivamente das elites
políticas, embora não utilizasse o termo “elite”
mas sim “classe política”. A recusa
do termo “elite” justifica-se na
medida em que o seu significado pode conduzir à ideia de que aqueles que estão
no poder sejam os elementos melhores da sociedade. Segundo o autor, as minorias
governantes são (deveriam ser) formadas por indivíduos que "se distinguem da massa dos governados por
certas qualidades que lhes dão uma certa superioridade material, intelectual ou
mesmo moral (...)" Este è verdadeiramente o problema, a sociedade
não se revê na actual “classe política”,
no fundo eles são o que Robert Dahl descreve
como sendo um grupo minoritário que exerce “dominação política” sobre a maioria, dentro de um sistema
de poder democrático. E quando se vê no poder organiza-se de tal
modo que mantém, a longo prazo, a própria posição, tutelando os seus
interesses, utilizando para isso os meios públicos à sua disposição. Posicionando-se
em locais hierárquicos de diferentes instituições públicas, partidos ou
organizações de classe, ou seja, pode ser entendido simplesmente (não podendo
ser mais actual), como aqueles que têm capacidade de tomar decisões políticas
ou económicas. Podemos incluir no “universo
elitista” de Zorrinho (e outros)
os “formadores de opinião” designando
aquelas pessoas ou grupos capazes de formar e difundir opiniões que servem como
referência para os demais membros da sociedade. Só que estes estão longe de um
“intelectual orgânico”, tal como era
definido por Gramsci. Neste caso, o conceito de formação da “opinião pública” é substituída pela
ideia de “construção ideológica”,
entendida como a direção política tomada num dado momento histórico. Sob este
aspecto, esta “elite” deixou há muito
de cumprir o seu papel de dirigente social e cultural, de estabelecer de se afirmar numa ideologia. Deixando assim no
decorrer do seu discurso o “vazio” na
longa batalha que constitui a história da vida, onde todo o esforço é contrariado
por dificuldades, até que a vitória seja conquistada.
Nuno Serra Pereira, 11 de Setembro de 2012.