terça-feira, 21 de junho de 2011

Nobre sai de cena quando não é de cena.



Fernando Nobre pela sua experiência e pelo seu passado cedo deveria ter percebido quando deveria ter saído de cena. Apercebendo-se que o seu nome não reunia consenso parlamentar, deveria por respeito a quem o convidou, porque quem o convidou respeitou o que prometera contra tudo e contra todos, ter renunciado a proposta do seu nome para a presidência da assembleia. Poderia assim ter-se poupado e ter-nos poupado ao que assistimos ontem.
O que se viu, por quem assistiu foi desolador, Fernando Nobre para além de não conhecer os cantos à casa por esta ser a sua primeira vez sentiu na pele a frieza do hemiciclo o isolamento daqueles que pressentiam o cheiro da sua “morte” e o condenavam antecipadamente.
Resultado da primeira votação, apenas 106 votos em 108 possíveis por parte da bancada do PSD superando a segunda em um voto, pois no entretanto houve quem se arrependesse. A segunda ida a votos serviu para sedimentar a humilhação, ficando para a história do parlamento como o único candidato que não conseguiu ser eleito sem concorrentes e com direito a segunda volta.
Penso que a sua derrota não terá sido em relação à sua pessoa mas sim a tudo o que envolveu a sua integração nas fileiras do PSD e as suas consequentes declarações. Contra a sua intenção inicial resta-lhe assumir o lugar de deputado que é no fundo o que mais nobre lhe sobra.
Tal como Sigmund Freud, pai da psicanálise explica que o mundo dos instintos, dos desejos sem forma se revela quando agimos de acordo com o princípio do prazer imediato, sem pensar na consequência das nossas acções. E o ego reflexo das consequências das nossas acções, renunciando ao prazer imediato tendo em vista os prazeres adiados e transforma os impulsos em desejos respeitáveis. Nobre esqueceu-se destes princípios e de que em política é preciso saber esperar, ainda que os convites pareçam irrecusáveis.
Devíamos começar a pôr em prática os princípios éticos que defendemos. Devíamos redescobrir o autodomínio, não ceder à tentação do poder e do êxito fáceis, e deixar de nos considerar bons por sermos compreensivos e tolerantes. Devíamos ser exigentes com nós próprios e esperar que todos os outros façam o mesmo.

Lisboa, 21 de Junho de 2011.
Nuno Serra Pereira

Fim pouco nobre

Teve o desfecho aguardado a não eleição de Fernando Nobre para presidente da Assembleia da República (PAR). Dos 230 deputados teve apenas 106 votos (105 na segunda e derradeira insistência) quando precisaria no mínimo de 116. Tudo estava contra o próprio. E não poderia ser de outra forma.



A sua pré-candidatura ao cargo de segunda figura do Estado Português precoce e despropositada, as suas declarações sobre a renúncia ao mandato caso não fosse eleito PAR, a sua insistência em ter essa influência na AR como se tivesse um programa político para a mesma quando o governo é que tem programa político e na AR legislasse e fiscalizasse a acção do mesmo. Diria que tudo indiciaria que desejava usar a PAR como rampa de lançamento para uma futura candidatura presidencial (mais uma...). A insistência e a persistência não são um mal em si mesmos, muito pelo contrário. Agora a sua utilização desenquadrada da realidade e de forma inconsciente não prestigia quem porventura terá essas qualidades ou gestos. Há que ter noção! Era escusado o embaraço do próprio Passos Coelho, embora a meu ver não seja algo que vá fragilizar o novo governo, do visado pois claro, enfim de todo o episódio que vinha pairando desde a campanha eleitoral.



Resta que faça um bom mandato como deputado. A ver vamos. E que o próximo PAR esteja à altura da Casa da Democracia, que tenha experiência política e parlamentar suficientes, competência e mérito e que para além do tão relevante sentido de Estado tenha os indispensáveis bom senso, sensatez e ponderação. Tudo isto faltava a Nobre. Sai deste episódio sem nobreza e sem dignidade políticas.



Parece-me que Assunção Esteves, o novo nome proposto pelo PSD e eleita com uma confortável maioria, não tanto pela sua condição de mulher, mas pelo seu estatuto profissional e desempenho político poderá fazer um bom lugar e ser uma digna PAR. Assim esperamos todos.