quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Quem a viu e quem a vê!

Em tempos, num outro blogue (Gazeta Lusitana), escrevi um post em que elogiava a actual chanceler alemã Angela Merkel como sendo uma figura de referência no quadro europeu e da União Europeia (UE), que bem precisa delas. Olhavamos para o panorama dos líderes europeus e não viamos ninguém, pelo menos eu não via ninguém com peso político e até carisma, a não ser a senhora doutorada em física que ainda dirige o governo alemão. Na altura utilizando a ilustração mais abaixo perguntei : "É ou não é uma grande estadista?". Fui contestado por um colega de blogue que não concordou com a minha opinião. Eu rebati e não cedi na altura.


Com o passar do tempo e com o passar de reacções suas à crise europeia (financeira, económica, mas também política...) um certo tipo de egoísmo nacional alemão, ou se quisermos um pragmatismo político excessivo pensando sobretudo no seu eleitorado e não tanto no projecto europeu, veio à tona. Bem sei que não será fácil conciliar interesses nacionais e interesses europeus, mas quem o conseguir, sobretudo em tempos de crise, terá direito à medalha de mérito e de líder carismático. Não basta dirigir um país com a maior economia europeia, ter os contribuintes que mais contribuem para o financiamento da União, é preciso mais do que isso. Na altura de revelar essa capacidade de articulação da identidade nacional e do projecto europeu, o pragmatismo político e os interesses eleitorais nacionais falaram mais alto. Ainda para mais sem o sucesso desejado pela líder da CDU alemã, pois as derrotas regionais na Alemanha têm-se sucedido.


Tenho de ceder e dar razão a quem na altura contestou a minha opinião. Revelou que não é uma grande estadista. A União Europeia, o continente europeu no geral, continua a carecer de figuras de referência, que dêem credibilidade interna e externa à UE, que galvanizem os povos europeus para um projecto comum, em que na diversidade de identidades consigam construir sociedades e economias avançadas e competitivas e ter uma palavra a dizer em termos mundiais. Se for bem dimensionado e construído com razoabilidade, bem conduzido, terá mais hipóteses de sucesso do que de fracasso. Não estando propriamente em risco, neste momento, deverá tomar um outro rumo, que encurte a distância entre instituições europeias e cidadãos europeus e que combata a imagem e as intervenções fragmentadas, por vezes fragmentárias mesmo. E não será aquele que a chanceler Merkel está a ter. Quem a viu e quem a vê!

Em jeito de desabafo!

A maneira como a União Europeia está a lidar com a crise do Euro revela a natureza menos nobre do ser humano. O federalismo como já anteriormente o referi (não quer dizer que seja um dos seus guardiões) é actualmente a única saída para a continuidade europeia. Este tem sido um argumento rejeitado por muitos apoiando-se numa atitude xenófoba muitas vezes disfarçada.

Todos os dias somos confrontados e surpreendidos por declarações de dirigentes europeus em relação aos países periféricos do sul da Europa. Agora foi a vez do comissário europeu alemão Günther Oettinger, ao propor que as bandeiras dos países endividados fossem colocadas á meia haste nos edifícios europeus. Surpreende-me que não tivesse proposto que os cidadãos destes mesmos países passassem a exibir uma estrela na lapela, para que fossem diferenciados como cidadãos europeus de segunda.

A humilhação que sofremos hoje está ligada á subserviência que adoptamos perante as imposições externas do passado e do presente.
União na Europa sim, mas não á custa de alterações constitucionais sem serem discutidas, muito menos impostas por quem não quer ver a verdadeira Europa e que atropela constantemente os símbolos nacionais de cada estado membro.

As vozes do descontentamento terão de fazer frente não só á crise financeira, mas sobretudo á crise moral e á falta de liderança objectiva europeia, afastando o espectro de uma morte anunciada.

15 de Setembro de 2011

Nuno Serra Pereira