terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Em defesa da Maçonaria


«Pela primeira vez na minha vida fabriquei uma bomba. Cerquei o seu dynamite de verdade com um invólucro de raciocínio; puz-lhe um rastilho de humorismo. Feita, atirei-a aos opositores da Maçonaria. E o effeito foi não só retumbante mas milagroso. Perderam a cabeça sem a ter.»
Fernando Pessoa

Para começar, tal como  Pessoa refere no seu artigo, publicado no Diário de Noticias de Fevereiro de 1935, «começo por uma referencia pessoal, que cuido, por necessária, não dever evitar. Não sou maçon, nem pertenço a qualquer outra Ordem, semelhante ou diferente. Não sou porém anti-maçon, pois o que sei do assunto me leva a ter uma ideia absolutamente favorável da ordem Maçónica». Talvez fizesse uma pequena alteração no “favorável da”, por “tolerante à”.
A Ordem Maçónica é secreta pela mesma razão porque eram secretos os Mistérios antigos, incluindo os dos cristãos, que se reuniam em segredo, para louvar a Deus, enquadrando-se hoje no que seriam Lojas ou Capítulos. Para se distinguirem dos profanos, tinham fórmulas de reconhecimento, toques ou palavras passe. Por esse motivo os romanos chamavam-nos de «ateus, inimigos da sociedade, e inimigos do Império», adjectivos utilizados para classificar os maçons à luz da actual Igreja Romana, longe dos desígnios maçons mais remotos.
Os elementos que compõem a Maçonaria são, o elemento iniciático que lhe confere o secretismo, o elemento humano que resulta da pluralidade social. Este em função do momento histórico perante diferentes culturas, assume interpretações que poderão ser vistas como controversas, eu diria circunstanciais. O que nos leva ao terceiro elemento que é o da tolerância, não impondo a alguém dogma nenhum, deixando correr o pensamento livremente de cada um, o que por si só justifica a ausência doutrinaria da maçonaria.
Nenhum acto político ocasional deverá ser interpretado como uma Obediência(que deverão ser autónomas e independentes) imputada à Maçonaria em geral. Muitas das vezes são, circunstâncias políticas do momento, que originam deturpações, que a Maçonaria não criou. Esta, ou qualquer outro tipo de associação não deverá ser avaliada pelos actos ocasionais manifestando relações indevidas entre o interesse público e privado.
Sejamos justos nas nossas avaliações e na herança histórica e universal. São disso exemplos: «na religião,  os jesuítas deveriam estar agradecidos por lhes ter sido dado acolhimento e liberdade na Prússia pelo maçon Frederico II, no século dezoito, quando foram expulsos de toda a parte e repudiados pelo próprio Pápa; como no desfecho histórico da vitória em Waterloo, protagonizada por Wellington e Blücher, ambos maçons, ou naquela em que viria a assentar a vitória dos aliados, a Entente Cordiale, obra do maçon Eduardo VII; na cultura uma das maiores obras literárias modernas, o Fausto do maçon Goethe».
O debater e o saber abrem as portas do que é universal e oculto, a inteligência salvaguarda o conhecimento e perpetua o enigma para os que se fecham na ignorância.
PS: Obrigado Pedro pelo livro de Fernando Pessoa, “Associações Secretas e outros escritos”, ÁTICA Prosa, Babel – Obras de Fernando Pessoa Nova série. Que deveria ser de leitura, se não obrigatória pelo menos aconselhada!
Lisboa, 10 de Janeiro de 2012.
Nuno Serra Pereira

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