terça-feira, 31 de maio de 2011

Estas Sondagens.



As sondagens exprimem intenções de voto e não a antevisão de resultados eleitorais, este facto é importante reter porque na realidade as intenções são comportamentos.
Os actuais resultados que diariamente vão aparecendo, seriam difíceis de explicar, se as eleições fossem apenas um mecanismo de recompensa e punição dos governos. O que na realidade se passa é que os eleitores são racionais e menos calculistas em relação ao mero somatório percentual. Muitos ainda decidem com base na ideologia, o que não significa que sejam irracionais. A racionalidade existe mas o voto é uma questão muito mais complexa do que castigar ou recompensar governos pelo seu desempenho.
É uma pena que o foco das sondagens actuais, em Portugal e não só, incidam meramente na questão das intenções de voto e não se faça uma extrapolação dos dados recolhidos para o estudo sociológico e explicativo dos votos. Dados como a classe social, o nível de instrução e a faixa etária são dados muito pouco tratados apesar de serem recolhidos quando se fazem as sondagens. Estes estudos poderiam ajudar os políticos a entenderem de facto o eleitorado e corrigir a tempo rotas eleitorais mal traçadas.
As sondagens que são efectuadas muito antes do acto eleitoral perdem a objectividade do voto, o distanciamento agrava a flutuação das intenções pela simples razão de que os indivíduos expostos a novos factos durante um espaço de tempo mais alargado, poderão ser influenciados a mudar de opinião.
Estas eleições para a Assembleia da República são muito particulares, projectando esperanças num futuro em que muitos acham que já não conseguimos projectar nada. Poderá ser a explicação porque está o PSD nesta situação estranha de não descolar claramente nas intenções de voto diárias, no fundo de não conseguir capitalizar o descontentamento. O momento eleitoral é diferente revelando-se na falta de solidez da captação da intenção de voto de cada um. Os que estão indecisos irão decidir no último momento o que torna as previsões menos assertivas e evidentes podendo os resultados destas sondagens não coincidirem totalmente com o resultado do sufrágio do dia 5 no próximo domingo.
Poder ver para além das percentagens, aliando algum discernimento social levará aqueles que se dedicam a este tipo de actividades, sondagens e estudos de opinião, a ficar mais próximos da realidade. Torna-se claro que a transversalidade e a complementaridade das ciências sociais serão parte integrante das sondagens no futuro.

Lisboa, 31 de Maio de 2011.
Nuno Serra Pereira

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