quinta-feira, 7 de julho de 2011

O “lixo” europeu.

Na realidade, apesar dos problemas na Grécia, na Irlanda e Portugal, não se pode dizer que a economia europeia esteja de rastos, visto que há países a crescer como é o caso da Alemanha (4%). O BCE (Banco Central Europeu) quando define a sua política de taxas de juro, tem de ter em conta a recessão em Portugal, mas também o crescimento da maior economia europeia. Em Maio, a inflação atingiu os 2,7% na zona euro, acima dos 2% que o BCE considera como indicativo da estabilidade de preços da região. O receio de que as pressões inflacionistas possam vir a ter efeitos secundários como o aumento dos salários, leva o BCE a aumentar as taxas de juro.
Estas taxas de juro definidas pelo BCE indicam os custos que os bancos pedem para emprestar dinheiro entre si, influenciando deste modo os juros que a banca exige para financiar as famílias e as empresas. Ou seja, aumentando as taxas de juro, o crédito fica mais caro arrefecendo a economia e os preços. O papel do BCE é manter a estabilidade dos preços na zona euro, sob o fantasma da hiperinflação da Alemanha e da deflação das economias periféricas a sul.
As agências de rating consideram que Portugal vale agora “lixo” num sinal claro de que o problema das dívidas soberanas não se resolve só nos limites geográficos dos países até agora resgatados. O problema em causa é a situação do euro e a sua solução que deverá ser mais abrangente, no fundo mais sistémica. A ideia da reestruturação da dívida vem assombrar mais uma vez a política económica europeia. A Europa também terá de dar indicações externas de que está realmente empenhada em resolver a crise das dívidas soberanas, encontrando rapidamente mecanismos que restabeleçam o equilíbrio financeiro entre os estados europeus, ou arrisca-se a perder o seu bem mais precioso que é precisamente a união.
Um desses mecanismos deveria ser a criação de eurobonds (títulos de dívida europeus) que certamente teriam um rating muito bom, sendo estes títulos vendidos em muito boas condições, com taxas de juro bastante mais baixas. Esta seria com toda a certeza uma forma da EU parar a crise na zona euro, mantendo o equilíbrio dentro da União e o apoio aos países periféricos como o nosso.
O problema é que não se vê do lado da Europa, mais concretamente da Alemanha vontade suficiente e empenhamento na verdadeira união económica e financeira europeia.

Lisboa, 7 de Junho de 2011.
Nuno Serra Pereira

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