quarta-feira, 18 de maio de 2011

A colonização de Passos



Face aos discursos contraditórios, à impiedosa assertividade de Portas e ao nervosismo perante as sondagens ingratas Passos resolveu radicalizar apelando a uma maioria absoluta que todos consideram irrealista.
Como se não bastasse resolveu dizer que era “o mais africano de todos os candidatos”. Inspirado num Obama real, quem sabe achou que seria o melhor argumento para piscar o olho a comunidade de imigrantes africanos em Portugal. Esqueceu-se que em Portugal, tradicionalmente as comunidades de imigrantes não se envolvem em actos eleitorais, a grande maioria ou não estão recenseados ou excluem-se de participar. Culpa precisamente dos sucessivos governos não quererem dar um “passo” no sentido de permitir aos imigrantes o direito de voto.
Ao dizer que “praticamente casei com África, referindo-se naturalmente ao seu casamento com Laura Ferreira, nascida na Guiné Bissau, recordou-me o argumento dos nossos antepassados que achavam que Africa passaria a ser “nossa” se fossemos casando com os locais. Estou convicto de que não foi essa a intenção de Passos Coelho, mas como alguém já terá referido foi um mau principio de conversa para um assunto tão melindroso que é o problema dos imigrantes, principalmente a comunidade Africana que não se sente representada no espectro politico sendo por isso o seu recenseamento muito diminuto, se comparados com os números da comunidade brasileira.
Contudo teve um lado positivo que foi abrir a discussão sobre o direito eleitoral dos imigrantes e se terão de ser encarados como eleitores em futuros actos eleitorais. Mais uma vez a forma retirou a nobreza do conteúdo.
Já só falta pegar no discurso de Luter King e dizer “Eu tive um sonho, um sonho..” de que um dia viria a ser Primeiro-Ministro de Portugal! Esperemos que a inspiração não lhe estrague o sonho, o dele e de muitos portugueses!

Lisboa, 17 de Maio de 2011.
Nuno Serra Pereira

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